EVENTOS
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COMISSÃO CIENTÍFICA:
Profª. Drª. Rosangela Patriota (UPM/CNPq)
Prof. Dr. Alcides Freire Ramos (UFSM/PPGCult – Aquidauana/CNPq)
Prof. Dr. Eduardo Roberto Jordão Knack (UFCG)
Prof. Dr. Ítalo Nelli Borges (UNEB)
Prof. Dr. Gerson Leite de Moraes (UPM)
APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA CENTRAL DO EVENTO
O ano de 2024 assinala seis décadas desde o Golpe Civil-Militar de 1964, evento que precipitou a sociedade brasileira em um prolongado período de governo autoritário, capitaneado pelas forças armadas, que se estendeu por vinte e um anos. Durante essa era, o Brasil foi submetido à imposição de Atos Institucionais (AI-1, AI-2, AI-3, AI-4, e o nefasto AI-5), sob cujo manto emergiu um regime de censura prévia, cassação de mandatos parlamentares, e repressão severa contra todos aqueles que se colocaram em oposição ao regime de exceção instaurado em 31 de março de 1964, resultando em prisões, torturas, assassinatos e exílios. Diante deste cenário, as respostas dos setores oposicionistas variaram desde a construção de um campo de resistência democrática até a adoção de ações guerrilheiras, empreendidas por diversos organismos revolucionários.
Nesse contexto, as dinâmicas sociopolíticas, já marcadas por uma complexidade inerente, adquiriram dimensões ainda mais profundas e abrangentes, permitindo o surgimento de práticas e discursos alicerçados por novos sujeitos históricos. Face às adversidades, as estratégias de resistência desenvolvidas, como a emblemática “linguagem da fresta”, foram ao longo do tempo objeto de minuciosa análise por historiadores, cientistas políticos, filósofos, economistas, literatos e outros estudiosos, gerando uma vasta e relevante bibliografia sobre o período ditatorial no Brasil.
Reconhecendo a pertinência e excelência da produção acadêmica tanto nacional quanto internacional acerca desse período crucial de nossa história contemporânea, este Simpósio, promovido pela Rede Internacional de Pesquisa em História e Culturas no Mundo Contemporâneo, pretende somar-se a outros encontros de pesquisadores (ocorridos ao longo de 2024), que têm se dedicado a refletir sobre os significados do Golpe de 1964 e seus desdobramentos ao longo das décadas de 1960 a 1980. Mais do que isso, essa iniciativa visa ampliar a compreensão dos impactos dessa era para além do recorte cronológico dos vinte e um anos, buscando compreender como as marcas do autoritarismo continuam a se manifestar no Brasil do século XXI, permeando não apenas a esfera política, mas também as instituições estatais e amplos setores da sociedade civil.
A Rede Internacional de Pesquisa em História e Culturas no Mundo Contemporâneo reafirma a urgência e a necessidade dessas reflexões e, ao mesmo tempo, convida todos aqueles interessados a se associar a nós nessa empreitada intelectual.
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PROGRAMAÇÃO
Dia 16/09/2024 – 19:30 h
MESA-REDONDA 1
RUPTURAS E CONTINUIDADES NO DIÁLOGO DEMOCRACIA X DITADURA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Palestrantes:
Profª. Drª. Rosangela Patriota (UPM/CNPq)
Prof. Ms. Gabriel Marques Fernandes (Doutorando UPM)
Prof. Dr. Alexandre Pacheco (UNIR)
Mediação:
Profª. Drª. Ana Paula Teixeira Daher (RIPHCC)
Essa mesa-redonda tem o objetivo de refletir sobre aspectos políticos e culturais da História do Brasil República no decorrer dos séculos XX e XXI. Tendo como eixo norteador o processo histórico, que se iniciou com o Golpe Militar de 31/03/1964, as reflexões que aqui serão apresentadas visam compreender como as tensões e as lutas entre práticas democráticas e ações autoritárias permearam e ainda permeiam os embates contemporâneos. Finalmente, mas não menos importante, as discussões discutirão em que medida o Estado de Direito e a normalidade do funcionamento das instituições se traduziram em fortalecimento de vivências e de ideias democráticas em nosso tempo presente.
1) Entre permanências e rupturas da cultura de oposição à ditadura militar à disseminação dos discursos de ódio
Profª. Drª. Rosangela Patriota (UPM/CNPq)
No decorrer da segunda metade do século XX, na sociedade brasileira, as discussões envolvendo temas como nacional, democracia, participação popular, organização dos trabalhadores em associações, lutas por direitos sociais e políticos, entre outros, tornaram-se o leitmotiv da vida pública do país. Em torno dessas bandeiras, distintos segmentos sociais, políticos e culturais se organizaram com vistas a dar materialidade a tais expectativas. Com esse horizonte, no âmbito cultural, foram produzidos projetos, espetáculos, filmes, romances, contos, poesias, pinturas, instalações. No entanto, com o golpe de 1964, inúmeras ideias e realizações foram abortadas frente à nova realidade estabelecida que se estruturava a partir dos Atos Institucionais (AI), da censura, de cassações, prisões, perseguições; enfim, a partir de dispositivos que desenharam as bases do Estado Autoritário que se implantara com a deposição de João Goulart. Frente a essas circunstâncias, iniciou-se o que posteriormente foi denominado “cultura de oposição”. Embora tivessem existido outras perspectivas, em termos de estilo e de temas, as pautas progressistas em favor da liberdade e do Estado de Direito tornaram-se predominantes. Em virtude disso, salvo melhor juízo, acreditávamos que com o fim do regime militar havíamos construído uma sociedade plural, tolerante, com sérios problemas a resolver, como a justiça social, mas disposta a enfrentar tal empreitada. No entanto, acontecimentos diversos trouxeram à luz práticas de intolerância e de autoritarismo, potencializadas por discursos de ódio, que se disseminaram e se disseminam especialmente pelas redes sociais. Nesse sentido, compreender esse Brasil, que emergiu na últimas décadas do século XXI, é um dos objetivos desta apresentação.
2) Arnaldo Jabor, um pensador reacionário? Entre o autor, o texto e o receptor
Prof. Me. Gabriel Marques Fernandes (Doutorando UPM)
Arnaldo Jabor, conhecido, no século XXI, por ser um comentarista político, majoritariamente, em meios de comunicação do Grupo Globo e, no século XX, por se ocupar, centralmente, do cinema, sendo vinculado, muitas vezes, ao Cinema Novo, foi apropriado, ao longo das disputas eleitorais em torno do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, por um segmento da cultura reacionária do Brasil – os eleitores bolsonaristas. O fato de Jabor ser tomado como referência desse grupo reacionário faz dele um reacionário? É essa pergunta que será respondida ao longo desta palestra. Entretanto, ao colocarmos essa questão, encontramos um problema que já foi posto por Wolfgang Iser, em “O Jogo do Texto” (2011): existe um abismo entre o autor, texto e o receptor. Para dar conta, então, desta investigação, levanta-se a seguinte hipótese: Jabor, apesar de alimentar a cultura reacionária bolsonarista, não é um reacionário. Para demonstrar a afirmação anterior, essa apresentação será dividida em quatro momentos: 1) uma reflexão sobre o conceito de reacionário na literatura das ciências humanas, ancorado em Mark Lilla (2018); 2) a trajetória de Arnaldo Jabor; 3) “Viva a catástrofe!” (2006): uma análise de uma crônica de Arnaldo Jabor; 4) A recepção bolsonarista de Arnaldo Jabor. A conclusão, portanto, consiste na asserção segundo a qual Jabor não é um sujeito reacionário bolsonarista, mas seu discurso cínico [no sentido de Peter Sloterdijk (2012)], que, em alguns momentos, beira ao niilismo [em um prisma nietzschiano (1974)], diante do Estado Democrático de Direito, faz com que Jabor aglutine sujeitos com pensamentos antidemocráticos em torno de sua figura pública.
3) A obra Trem fantasma, de Foot Hardman, e sua recepção pela crítica do jornalismo cultural do Rio e São Paulo no tempo da redemocratização brasileira (1988-2005)
Prof. Dr. Alexandre Pacheco (UNIR)
O presente texto analisa certas representações literárias do discurso da crítica jornalística que recepcionou a obra Trem Fantasma, de Francisco Foot Hardman, na imprensa do Rio e São Paulo nos anos de 1988-2005. De uma forma geral, a crítica jornalística mobilizou politicamente o tema da obra, ou seja, o colapso da Estrada de Ferro Madeira Mamoré para a projeção de um exame sobre os descaminhos da nação brasileira em busca do progresso. A fundamentação teórica leva em conta os estudos do jornalismo cultural e suas relações com a crítica literária acadêmica, como também o uso do conceito de representação de Roger Chartier. Os resultados demonstram três momentos de projeções da crítica jornalística sobre a obra em questão. Em um primeiro momento, a projeção de uma Madeira Mamoré como representação das mazelas do sonho nacional do desenvolvimento das elites brasileiras. Em um segundo momento, a projeção das ações políticas modernizantes e deslumbradas das nossas elites que levaram à construção e ao colapso da Madeira Mamoré. Já em um terceiro momento, a projeção da Madeira Mamoré sob o impacto do processo de globalização do final do século XX e inícios do século XXI. Em seu conjunto, enfim, as representações indicaram a ferrovia Madeira Mamoré na obra Trem Fantasma, como um dos exemplos históricos que sempre dificultaram o ingresso do país no concerto das nações mais desenvolvidas.
Dia 23/09/2024 – 19:30 h
MESA-REDONDA 2
O AVANÇO DA EXTREMA DIREITA NO CINEMA BRASILEIRO
Palestrantes:
Prof. Dr. Alcides Freire Ramos (UFMS/PPGCult-Aquidauana/CNPQ)
Prof. Dr. Jailson Dias Carvalho (SEC-MG)
Prof. Dr. Rodrigo Francisco Dias (IFET-MG)
Mediação:
Prof. Dr. Ítalo Nelli Borges (UNEB)
A mesa-redonda, aqui apresentada, parte do pressuposto segundo o qual o cinema pode funcionar como uma espécie de “sismógrafo”, indicando, de diferentes maneiras, a ocorrência de profundas transformações políticas e ideológicas ao longo do tempo. Assim sendo, a primeira apresentação vai examinar aspectos relevantes do cinema brasileiro dos anos 1990, destacando como os debates dessa época promoveram uma contundente revisão estética e política, sob o impacto do neoliberalismo e da globalização. Desse ponto de vista, o filme “O que é isso, companheiro?” (1997) não será o único filme analisado, mas ele estará no centro da reflexão. Essa obra mostra, com clareza, como a narrativa cinematográfica foi elaborada em sintonia com as transformações sociopolíticas, então em curso, contribuindo para a lenta e progressiva ascensão da extrema direita no Brasil. A segunda apresentação analisa “Tropa de Elite 1” (2007), sob a perspectiva da “tecnologia da morte”, mostrando como o filme encapsula e dissemina práticas e discursos de violência, os quais têm raízes no período militar brasileiro. A segunda apresentação, portanto, vai pensar a respeito do impacto duradouro do regime militar nas representações contemporâneas da violência e do controle social. Fechando a reflexão dessa Mesa-Redonda, a terceira apresentação vai avaliar o filme “1964 – O Brasil entre armas e livros” (2019), produzido pela Brasil Paralelo, de modo a revelar como ele constrói uma narrativa conservadora e anticomunista sobre o golpe de 1964, evidenciando, acima de tudo, como o cinema pode ser utilizado para reinterpretar eventos históricos e moldar discursos políticos atuais. Juntas, portanto, essas três análises procuram demonstrar como o cinema pode ser visto como um forte índice de mudanças abissais, que ocorreram num passado recente, ou estão ocorrendo, hoje em dia, nos âmbitos político e ideológico no Brasil.
1) Cinema Brasileiro dos anos 1990 no contexto da globalização e do neoliberalismo
Prof. Dr. Alcides Freire Ramos (UFMS/PPGCult – Aquidauana/CNPq)
O objetivo é mostrar como a partir dos anos 1990, no âmbito do cinema brasileiro, inicia-se um processo de revisão estética e política, abrindo espaço para a penetração do ideário do neoliberalismo/globalização, que, como sabemos, está no cerne da atual ascensão da extrema direita no Brasil. O filme “O que é isso, companheiro” (1997, Bruno Barreto) estará no centro dessa discussão, mas outras obras serão também mencionadas e analisadas, tanto do ponto de vista das escolhas artístico-formais (linguagem cinematográfica), quanto no que refere aos temas centrais das narrativas, de modo a demonstrar a afirmação segundo a qual o cinema pode se comportar como “sismógrafo”, ou seja, essa manifestação artística pode ajudar a colocar em evidência (às vezes de maneira sutil, mas em alguns casos de forma mais direta) transformações sociais, políticas e ideológicas que já estão ocorrendo, mas ainda não são totalmente compreendidas.
2) A circularidade da tecnologia da morte em Tropa de Elite 1
Prof. Dr. Jailson Dias Carvalho (SEC-MG)
“Tropa de Elite 1” (2007) tornou-se um produto cultural de grande interesse público e de crítica. Assim, revisitá-lo à luz de questionamentos que buscam localizar o desenvolvimento do discurso da extrema-direita no país configura-se um desafio. Nesse sentido, se a tecnologia, à vista do Dicionário de Conceitos Históricos, pode ser entendida por “um conjunto de conhecimentos práticos sobre como utilizar os recursos materiais a favor da humanidade” (SILVA, 2020, p. 387), como podemos traduzir uma película que traz em sua encenação um certo conhecimento prático que circula entre seus personagens a favor da morte e do aniquilamento? Considerando determinados autores que se debruçaram sobre o regime militar brasileiro, não teria a sociedade brasileira em decorrência do período autoritário, robustecido a violência, disseminado a figura do justiceiro, rotulado o criminoso comum como inimigo do estado, revigorado a tortura, e tonificado a onipotência e a autonomia do agente policial, prefigurando, dessa forma, uma reverberação da tecnologia da morte presente em “Tropa de Elite”? Nesse prisma, pretendemos exibir determinados fotogramas do filme que nos ajudarão no esclarecimento do termo tecnologia da morte.
3) O Golpe de 1964 sob o ponto de vista da empresa Brasil Paralelo: uma análise de “1964 – O Brasil entre armas e livros” (2019, direção de Lucas Ferrugem e Filipe Valerim)
Prof. Dr. Rodrigo Francisco Dias (IFET-MG)
Esta apresentação tem como objetivo avaliar os usos políticos do passado nas produções da empresa Brasil Paralelo, especialmente no que tange ao filme “1964 – O Brasil entre armas e livros” (2019, direção de Lucas Ferrugem e Filipe Valerim). O referido filme será analisado a partir dos seus aspectos estético-formais e de um diálogo com a Teoria do Cinema, sobretudo no que concerne ao gênero cinematográfico do “documentário”. Por meio das interconexões entre arte e política, o presente estudo pretende demonstrar como o filme “1964 – O Brasil entre armas e livros” constrói uma narrativa que, embora seja dotada de um aparente “efeito de verdade”, está intimamente associada a uma determinada perspectiva político-ideológica de viés conservador que reproduz e reforça um forte discurso anticomunista. Esperamos, com esta apresentação, explicitar as estratégias narrativas e conceituais utilizadas pela empresa Brasil Paralelo para “escrever a História” do passado a partir de questões colocadas pelo próprio tempo presente.
Dia 30/09/2024 – 19:30 h
MESA-REDONDA 3
MULHERES EM MOVIMENTO: A INTERSECCIONALIDADE
Palestrantes:
Profª. Drª. Rosana Maria Pires Barbato Schwartz (UPM)
Profª. Drª. Lucia Helena Polleti Bettini (USCS)
Profª Drª. Tania Suely Antonelli Marcelino Bravo (UNESP)
Mediação:
Profª. Drª. Ana Bárbara Pederiva (UNICSUL)
Esta mesa propõe debater os avanços dos movimentos de mulheres e o conceito de interseccionalidade para as interações entre diferentes categorias sociais e formulações de políticas públicas de gênero, raça/etnia, classes sociais, sexualidade e deficiência. Considera-se interseccionalidade uma exigência ética e jurídica, que orienta para a efetividade da democracia, propicia o descongelamento do conhecimento e a desconstrução de assimetrias no agir humano.
1) Interseccionalidade e humanização pós-Ditadura: perspectivas de Adilson José Moreira sobre classe, gênero e etnia
Profª. Drª. Lucia Helena Polleti Bettini (USCS)
O objetivo desta apresentação é problematizar a interseccionalidade nos processos de humanização pós ditadura militar, integrando diferentes categorias sociais, o que é uma exigência ética e jurídica, visto que oferece orientação para a efetividade da democracia, problematizadora das múltiplas formas de violência, exploração e dominação que articulam as noções de classe, gênero e etnia. As interseccionalidades são abordadas pelas perspectivas teóricas e metodológicas de Adilson José Moreira.
2) A Influência de Patricia Hill Collins na reconfiguração das identidades e dos movimentos de mulheres
Profa. Dra. Rosana Maria Pires Barbato Schwartz (EAHC-UPM)
Nesta apresentação, o ponto de partida é a teoria da interseccionalidade, crescente no contexto dos estudos do feminismo contemporâneo, e que se direciona para as diferentes experiências das mulheres e suas relações com raça/etnia, classe social e sexualidades, ou seja, para as identidades interseccionais. Após os anos de 1960, período de extrema violação dos direitos humanos, as complexidades das múltiplas experiências femininas possibilitaram que os movimentos de mulheres criassem e recriassem novas estratégias de desconstrução das assimetrias gênero e raça, sob novas bases conceituais, a concepção de interseccionalidade é a principal delas. No cerne desta apresentação, estarão as reflexões de Patrícia Collins Hill, tendo em vista que elas abrem debates inovadores e robustas perspectivas de análise.
3) Feminismos Brasileiros: a interseccionalidade e a Quarta Onda do feminismo
Profª Drª. Tania Suely Antonelli Marcelino Bravo (UNESP)
Esta apresentação tem como ponto de partida as bases teóricas clássicas dos estudos dos movimentos sociais, particularmente na vertente dos feminismos brasileiros, considerando o período entre 1960 e 1980. Essas bases teóricas identificaram diversidades de repertórios de ações dos movimentos e coletivos de mulheres, interações, resistências e ativismos, os quais, anos mais tarde, se ressignificaram e caminharam em direção à novas agendas e pautas. Esta apresentação tem como objetivo aprofundar a discussão a respeito do que se costuma denominar como “quarta onda do feminismo”, tendo como foco privilegiado a interseccionalidade gênero, raça e sexualidade. Além disso, o objetivo também é pensar como posturas e questionamentos tem se colocado, especialmente para os estudos acadêmicos para os movimentos sociais no que se refere à questão democrática.
Dia 07/10/2024 – 19:30 h
MESA-REDONDA 4
AUTORITARISMOS DE ONTEM E HOJE: DITADURA, ENSINO DE HISTÓRIA E TRABALHO DOCENTE
Palestrantes:
Prof. Dr. Ary Albuquerque Cavalcanti Junior (UFMT)
Prof. Dr. Ítalo Nelli Borges (UNEB)
Profª. Drª. Sara Oliveira Farias (UNEB)
Mediação:
Prof. Dr. Alcides Freire Ramos (UFMS/PPGCult-Aquidauana/CNPQ)
Um atento observador, ou alguém que tenha vivido o cotidiano escolar educacional brasileiro, compreende que nos últimos anos (principalmente após a consolidação da extrema direita no poder com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018) a perseguição a professores de todos os níveis de ensino (especialmente aos da área das Ciências Humanas) se tornou uma tônica em seus exercícios profissionais, adicionando camadas de censura, intimidação e autoritarismo. Projetos de lei como o “Escola sem Partido” e os discursos de lideranças políticas reacionárias se disseminam e impulsionam distintos grupos sociais, fazendo uso das mais variadas táticas de desinformação, de modo a desvalorizar o trabalho docente, classificá-los como doutrinadores mal-intencionados, imbuídos do propósito de distorcer a consciência do educando. Nesse contexto, é preciso salientar que, para o ensino de História em específico, alguns conteúdos disciplinares são inerentes pontos de discórdia. Provavelmente, o exemplo que melhor demonstra esses tensionamentos se refere ao golpe de Estado de 1964 e a consequente ditadura, que durou até 1985. Não raramente, nos deparamos com relatos de docentes que, em decorrência da configuração antidemocrática, autoritária e persecutória que tomou conta de certos estratos sociais e instituições educacionais, se sentem acuados, vigiados e pressionados quando trabalham o processo da Ditadura Militar como conteúdo programático, o que configura uma evidente limitação dos direitos fundamentais, previstos na Constituição Brasileira, como por exemplo, liberdade de expressão, pensamento e, sobretudo, liberdade para ensinar e, principalmente, o direito de aprender do estudante. Em vista do que foi dito até aqui, a finalidade desta mesa, então, é pensar sobre como os autoritarismos passados e atuais incidem na educação brasileira e no ensino de História, seja em dimensões de políticas educacionais, materiais didáticos, cotidiano escolar e abordagens didático-pedagógicas. Ademais, compreendemos que a ação para combater essas violências educacionais vai incentivar a concepção do bom ensino de História, aquele que é capaz de despertar consciências históricas, comprometidas com princípios éticos e com o enfrentamento dos autoritarismos historicamente construídos.
1) Entre o dito e o temido: os desafios e as possibilidade de abordar a Ditadura Militar no ensino de história
Prof. Dr. Ary Albuquerque Cavalcanti Junior (UFMT)
Nos últimos anos, uma escalada de negacionismos e relativismos ideológicos passaram a ecoar dentro das salas de aula dos mais diferentes níveis educacionais. Como consequência, professoras/es passaram a ser vigiados, expostos em vídeos pela internet e acusados de modo a mostrar apenas “um lado da história”. Nesse contexto, abordar determinados temas, como o da ditadura militar em sala de aula gerou, e ainda gera, muito temor por parte de docentes, vide o crescimento da perseguição e dos discursos de ódio propagados, principalmente pela extrema direita. Dessa forma, a presente comunicação pretende fazer um breve balanço acerca do tema e como projetos de extensão e de ensino, além do cotidiano em sala de aula podem contribuir na luta contra o negacionismo, mas, sobretudo, criar possibilidades de abordar a temática da ditadura militar de forma a proporcionar reflexões e debates profícuos.
2) Ditadura Militar no Youtube: usos, abusos e ensino de História
Prof. Dr. Ítalo Nelli Borges (UNEB)
Há alguns anos que podemos entender, sem espaço para dúvidas, que a internet tornou-se um canal relevante de emissão e difusão do conhecimento histórico, gerando uma série de tensões e benefícios para esta área do conhecimento. Considerando a Ditadura Militar (1964-1985) como um tema bastante sensível e promotor de engajamento digital nas redes sociais, que também reverbera no cotidiano escolar do ensino de História, esta comunicação se preocupa em avaliar o conteúdo e a recepção dos vídeos com maiores acessos sobre a Ditadura Militar, postados no Youtube, além de realizar provocações e proposições de como utilizar a cultura digital para o ensino de História mais qualificado possível.
3) Ensinar a ler o mundo
Profª. Drª. Sara Oliveira Farias (UNEB)
O objetivo desta comunicação é historicizar, a partir da experiência do Movimento de Educação de Base (MEB), nos anos de 1960, no Brasil, como a experiência de ensinar homens e mulheres, jovens e adultos a ler, escrever e, ao mesmo tempo, ‘ensinar a ler o mundo’ foi duramente reprimida pelo estado brasileiro, no período da ditadura militar. Essa ação do MEB era vista como subversiva, e seus membros, muitas vezes, foram chamados de comunistas. É interessante observar, ontem e hoje, como práticas pedagógicas foram e ainda são vistas como “perigosas” por grupos de políticos, conservadores e de extrema direita. Nesse sentido, cabe uma reflexão: qual o lugar do ensino? E o ensino de história? Como fica? Quais os desafios? As perguntas são complexas, não possuem respostas prontas, mas caminhos a trilhar.
Dia 14/10/2024 – 19:30 h
MESA-REDONDA 5
HUMOR E DIVERSIDADE: ESTRATÉGIAS E NARRATIVAS PARA O EXERCÍCIO DA TOLERÂNCIA E DA DEMOCRACIA
Palestrantes:
Prof. Dr. André Luís Bertelli Duarte (UFU)
Prof. Dr. Emerson Cesar de Campos (UDESC)
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro Santos (UPM)
Mediação:
Profª. Drª Thaís Leão Vieira (UFMT)
O riso possui uma relação umbilical com a temporalidade, com o contemporâneo, pois necessita da identificação entre o emissor e o receptor do discurso para cumprir o seu propósito comunicativo. Neste sentido, no universo das narrativas e discursos de interesse do historiador da cultura, o humor possui um lugar privilegiado, na medida em que expressa ideias, (pre)conceitos, práticas, identidades e representações que circulam na sociedade. Esta mesa-redonda busca debater o lugar do humor no processo político, social e cultural brasileiro, na perspectiva de, por um lado, contribuir para o exercício da tolerância e da democracia e, por outro, contribuir para o avanço deste profícuo campo de estudos.
1) Tv Pirata: aspectos do humor televisivo em tempos de redemocratização
Prof. Dr. André Luís Bertelli Duarte (UFU)
Tv Pirata foi um programa de humor exibido pela rede Globo entre 1988 e 1991 que surgiu como um fenômeno de renovação da linguagem humorística televisiva, mais adequada aos “novos ventos” de liberdade que sopravam no Brasil no período. A presente exposição busca criticar o processo de monumentalização do programa e verificar as formas e conteúdos cômicos utilizados por seus criadores sob a luz de temas como o conservadorismo, o deboche e o politicamente correto. Procura-se, assim, debater o lugar do humor no processo político, social e cultural brasileiro, na perspectiva de, por um lado, contribuir para o exercício da tolerância e da democracia e, por outro, contribuir para o avanço deste profícuo campo de estudos.
2) O riso como uma denúncia do uso oportunista da “moral e dos bons costumes” como meio de dominação: uma análise da personagem Floriano, do seriado Pé-na-Cova, de Miguel Falabella.
Prof. Dr. Sérgio Ribeiro Santos (UPM)
A partir do seriado Pé-na-Cova, de Miguel Falabella, exibido pela TV globo entre os dias 24 de janeiro de 2013 e 7 de abril de 2017, com 71 capítulos distribuídos em 5 temporadas, esta apresentação tem por objetivo explorar a fala recorrente, “em nome da moral e dos bons costumes”, da personagem Floriano, interpretado pelo ator Rubens de Araújo (08/06/1940 – 02/03/2024). O objetivo será explorar como essa frase, apresentada como um lema em diversos momentos históricos, serve para justificar a manutenção do status quo, a naturalização das hierarquias sociais e a legitimação das desigualdades entre as relações humanas, servindo, assim, para reafirmar uma visão de mundo reacionária, obliterando os caminhos que podem levar à construção de uma sociedade plural e diversa. Por outro lado, assim como na trama, a expressão é socialmente apropriada, sendo-lhe atribuída uma carga moralista, não se aplicando aos que a sustentam, uma vez que sempre há algo escondido ou um passado a ser revelado, o que consiste numa hipocrisia social, mantida para sustentar privilégios, ou para a manutenção de uma posição de poder.
3) Humor e cultura brasileira: uma reflexão a partir da obra de Luís Fernando Fernando Verissimo
Prof. Dr. Emerson Cesar de Campos (UDESC)
No campo da História do Tempo Presente no Brasil se verifica a ausência de estudos que se concentrem na interface entre as diferentes linguagens da história cultural e política e da literatura brasileira, em especial a que se vale do humor. Nesse sentido, o que apresentaremos, a partir de pesquisa realizada, é uma problematização das relações entre política e humor no Tempo Presente Brasileiro, analisando a relação entre as violências da ditadura e a elaboração humorística produzidas no Brasil. Para tanto, vamos mobilizar a obra de Luis Fernando Veríssimo, cronista brasileiro popular no país e o mais lido escritor nacional no exterior. Nesta oportunidade, o humor é acionado como dispositivo de contestação e desestabilização políticas. Examinaremos as diferentes manifestações de humor no tempo presente brasileiro expressas nas crônicas, tirinhas e colunas nos jornais produzidas por Luís Fernando Veríssimo. Ainda mais, vamos problematizar as estratégias narrativas que ele utilizou para contornar a censura, bem como as diferentes culturas manifestas na obra daquele artista. Para tanto, de maneira criteriosa, selecionamos textos do autor, publicados em diferentes suportes, e que carregam manifestações humorísticas, relacionando-os com os acontecimentos e personagens que constituem parte considerável da história do nosso Tempo Presente.
Dia 21/10/2024 – 19:30 h
MESA-REDONDA 6
PERSPECTIVAS HISTÓRICO-LITERÁRIAS: UTOPIAS, REFLEXÕES E CONVERGÊNCIAS ANTIDEMOCRÁTICAS
Palestrantes:
Profª. Drª. Maria Patrícia Cândido Hetti (IFSP-SPO)
Prof. Dr. Renilson Rosa Ribeiro (UFSCar)
Profª. Drª. Vanessa Zinderski Guirado (IFSP-SPO)
Mediação:
Prof. Dr. Fernando Santos da Silva (RIPHCC)
O principal objetivo desta Mesa-Redonda é refletir sobre as relações entre história e literatura, enfocando como a ditadura militar brasileira foi representada artisticamente por meio do testemunho literário. O objetivo principal é analisar obras que, ao ultrapassarem os limites da narrativa histórica e literária, atuam como registros documentais de eventos silenciados pelo Estado. Inicialmente, a primeira apresentação discutirá “Retrato Calado”, de Luiz Roberto Salinas, explorando como a memória literária organiza a experiência da violência e promove o autoconhecimento, enquanto fornece elementos para compreender a relação entre literatura e história, especialmente no contexto de resistência ao autoritarismo. Esta análise vai se concentrar no papel do testemunho literário na organização da subjetividade e na compreensão das lutas pela democracia em tempos de crise. Em seguida, a segunda apresentação vai explorar as obras O que é isso companheiro?, de Fernando Gabeira, e 1968: o ano que não terminou, de Zuenir Ventura, que abordam a expressão da violência e a resistência durante o regime autoritário no Brasil. Essas obras ultrapassam os limites da narrativa e da escrita histórica e literária, podendo servir como um registro documental dos acontecimentos não divulgados e silenciados pelo Estado. Por fim, a terceira apresentação examinará a coleção didática “Brasil Vivo”, de Chico Alencar, publicada no contexto da abertura política dos anos 1980. Esta obra utiliza uma narrativa épica e articula literatura, poesia, músicas e caricaturas para retratar a história do Brasil sob a perspectiva dos “vencidos” e “excluídos”.
1) “Retrato Calado”: memória do horror
Profª. Drª. Maria Patrícia Cândido Hetti (IFSP-SPO)
Esta apresentação procura compreender a relação entre o gênero memorial e a história, particularmente debruçando-se sobre a obra “Retrato Calado”, de Luíz Roberto Salinas, na qual descreve sua vivência de prisão e tortura durante os anos da ditadura cívico-militar brasileira. Ao analisar as memórias, verifica-se que a literatura permitiu a reorganização da experiência violenta e a procura de autoconhecimento. O ato de criação literária ofereceu a possibilidade de olhar para o contexto e revelá-lo aos outros, ligando a obra à revolta, à luta e à reconstrução de si. Além do papel de organização da subjetividade do autor, o testemunho rigoroso da experiência nos fornece elementos importantes para compreender a relação entre literatura e história, especialmente ao ajudar-nos a entender as reflexões e tormentos dos homens e das mulheres, que lutam pela democracia em momentos de autoritarismo e crise.
2) Literatura, linguagens e memórias na Coleção “Brasil Vivo – uma nova história da nossa gente”, de Chico Alencar: da história trauma para a história-resistência
Prof. Dr. Renilson Rosa Ribeiro (UFSCar)
Esta apresentação tem a finalidade de abordar as representações da História do Brasil a partir da trama narrativa didática da Coleção “Brasil Vivo”, voltada para os estudantes do 5º ao 8º ano do antigo 1º grau, de autoria do professor de História Chico Alencar, publicada nos anos 1980, no contexto da abertura política e democratização do Brasil. Nessa obra didática, a autor (com a parceira de Marcus Venício Ribeiro e Claudius Ceccon) aborda as cronologias e temas da História do Brasil a partir da perspectiva da memória dos “vencidos” e “excluídos” por meio de uso de uma narrativa épica, articulando literatura, poesia, letras de músicas e caricaturas. Nesse sentido, o enredo da sua escrita investe na articulação entre a compreensão da história como trauma e resistência, tendo como pano de fundo o contexto de denúncia e enfrentamento do regime autoritário, instaurado no Brasil pelos militares entre 1964 e 1985, responsável por uma série de violações dos direitos políticos e sociais por meio da censura, repressão e violência, constituindo o que chamamos de “terrorismo de Estado”.
3) Relatos literários e históricos durante a ditadura: como representar o inominável
Profª. Drª. Vanessa Zinderski Guirado (IFSP-SPO)
Esta apresentação tem o objetivo de refletir acerca das relações entre história e literatura, a partir das análises de obras que abordam a questão da ditadura militar brasileira, por meio do testemunho dos personagens que narram a sucessão dos eventos apresentados, buscando identificar como a expressão da violência foi representada artisticamente na literatura, por meio desses relatos literários. Para tanto, serão analisadas as obras “O que é isso companheiro?”, de Fernando Gabeira e “1968: o ano que não terminou”, de Zuenir Ventura, visto que elas, assim como tantas outras escritas a respeito desse período, ultrapassam os limites da narrativa e da escrita histórica e literária, servindo como um registro documental dos acontecimentos não divulgados e silenciados pelo Estado.
Dia 28/10/2024 – 19:30 h
MESA-REDONDA 7
A LINGUAGEM TELEVISIVA E O PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL
Palestrantes:
Profª. Drª. Thaís Leão Vieira (UFMT)
Profª. Drª. Grace Campos Costa (RIPHCC)
Profª. Drª. Lays Capelozi (RIPHCC)
Mediação:
Prof. Dr. Robson Pereira da Silva (UFSCar/DCSo)
A televisão, enquanto meio de comunicação de massa, desempenhou um papel significativo no Brasil, especialmente a partir da segunda metade da década de 1960. A partir desse período surgiram visões apocalípticas e críticas extremas que retratavam a televisão como uma força destrutiva. É fundamental reconhecer, porém, a capacidade da televisão de alcançar simultaneamente públicos diversos, o que levou muitos artistas ligados ao Partido Comunista, como Gianfrancesco Guarnieri, Dias Gomes, Oduvaldo Vianna Filho, João Batista de Andrade, Eduardo Coutinho, dentre outros, a se envolverem na televisão. Este veículo foi responsável por criar e satisfazer grande parte das demandas intelectuais e artísticas da sociedade, configurando-se como uma ferramenta significativa na disseminação de bens culturais. Assim sendo, a intenção desta mesa é discutir modelos de produção televisiva no contexto ditatorial brasileiro, levando em consideração suas ambiguidades, por meio de três experiências históricas: a ambivalência da Rede Globo, que politicamente estava ligada à ditadura (o que era expresso nitidamente em produtos como o Jornal Nacional), mas que, em sua dramaturgia, mostrava outras dimensões; a questão das moralidades em Malu Mulher (1979); e a discussão em torno da qualidade da televisão a partir do humorismo. Pretendemos analisar, assim, a polissemia e complexidade envolvida na produção cultural televisiva desse período.
1) Identidades Sociais na Televisão dos Anos 1970 e 1980
Profª. Drª. Thaís Leão Vieira (UFMT)
Nas décadas de 1970 e 1980, muitos programas humorísticos, especialmente aqueles cujos redatores vieram de empresas ligadas à radiodifusão, transformavam os temas da ordem do dia por meio do humor, criando crônicas sociais. Assim, muitos aspectos relacionados à vida cotidiana, cultura e dinâmicas sociais, como questões de classe, raça, gênero e outras formas de identidade social, foram trazidos à tona por esses humoristas. Personagens como “Painho” e “Haroldo”, de Chico Anysio, e “Capitão Gay”, de Jô Soares, colocaram a homossexualidade no centro das discussões populares. À luz de personagens tipificadas a serviço da sátira e de imagens conhecidas, que permitem ao espectador se identificar com o conteúdo, a personagem risível concentra e cristaliza atributos. Por vezes, esses traços da personagem cômica são facilmente identificados pelo grande público e, não raramente, se tornam compreensíveis pela utilização de estereótipos. Mesmo com muitos intérpretes considerando a abordagem estereotipada do homossexual, nesses programas, como algo limitador, nesta apresentação buscar-se-á compreender como essas personagens desempenham papel complexo na cultura de massas, podendo ser objeto de reflexão em torno de um possível campo de articulação de identidades e diferenças.
2) Tornar-se mulher: sexualidade, gênero e relações de poder a partir do seriado “Malu Mulher” (1979 – 1980)
Prof.ª Dr.ª Grace Campos Costa
Esta apresentação tem como objetivo discutir alguns temas retratados no seriado “Malu Mulher” (1979-1980), exibido pela Rede Globo. Aborto, prazer feminino, divórcio, virgindade e violência contra a mulher são alguns exemplos de assuntos abordados no programa da maior emissora do país, no período marcado pela ditadura civil-militar brasileira. É importante fazer uma análise sobre determinados discursos, trabalhados durante o seriado, que foram cooptados pela política conservadora da atualidade. Por fim, esta apresentação tem como propósito refletir sobre as relações produzidas entre a História e a Televisão, destacando a relevância de “Malu Mulher”, como um espaço amplo de debates entre o feminino e as relações de gênero no Brasil.
3) “Caso especial” na Rede Globo: a força da teledramaturgia em tempos de resistência democrática
Prof.ª Dr.ª Lays Capelozi (RIPHCC)
Em setembro de 1969, a TV Globo exibia o “Jornal Nacional” de forma integrada a todo país. Esse foi o primeiro passo para que a emissora se tornasse uma bandeira da integração nacional, projeto desenvolvido no período militar. Por conseguinte, no que toca ao setor do jornalismo, a Globo possuía alinhamento direto com a ditadura, porém nas áreas responsáveis pela produção de teledramaturgia, o debate era mais amplo. Assim sendo, muitos artistas ligados a partidos de esquerda encontraram na Globo uma brecha, como por exemplo: Dias Gomes, Oduvaldo Vianna Filho, Lauro César Muniz, dentre tantos outros. Nesta apresentação, o objetivo é focar no programa “Caso especial” (1971-1995), que foi transmitido em horário nobre, trazendo adaptações de textos teatrais e literários. Nosso recorte será do final dos 1970 e início dos anos 1980, para pensarmos de que modo vários autores fizeram uso de textos ficcionais para dialogar com questões prementes do Brasil daquele momento.
Dia 04/11/2024 – 19:30 h
MESA-REDONDA 8
ENTRE RELIGIOSOS FUNDAMENTALISTAS E PROGRESSISTAS NO PERÍODO DO REGIME MILITAR BRASILEIRO: TRAJETÓRIAS TORTUOSAS E TORTURADAS
Palestrantes:
Profª. Drª. Magali do Nascimento Cunha (ISER)
Prof. Dr. Eliezer Rizzo (UNICAMP)
Prof. Dr. Gerson Leite de Moraes (UPM/UNICAMP)
Mediação:
Profª. Drª. Ana Letícia Espolador Leitão (SIRICE/RIPHCC)
No contexto da ditadura civil-militar no Brasil, muitas pessoas – dentre elas, jovens estudantes, líderes esquerdistas experientes, operários e agricultores – uniram-se num projeto de luta armada contra o regime ditatorial em funcionamento. Organizados em grupos guerrilheiros, estas pessoas desafiaram os militares e começaram a fazer ações armadas, para arrecadar fundos para a causa revolucionária esquerdista. Sequestros de embaixadores e diplomatas tornaram-se frequentes no Brasil, e isso tinha por finalidade promover a troca do sequestrado por prisioneiros políticos, que estavam sofrendo bárbaras torturas nos porões da ditadura brasileira. Assaltos a bancos tinham por finalidade financiar as guerrilhas, tanto nas cidades, quanto no campo. É, neste contexto, que cristãos católicos e protestantes, engajados politicamente, começam a se unir a partir dos princípios essenciais da fé cristã, para fazer frente aos desmandos militares. Ocorreu, então, no Brasil, um esforço ecumênico, no sentido de oferecer socorro às vítimas da ditadura militar. E, ao mesmo tempo, surgiu um ecumenismo de preservação da memória dos horrores da ditadura militar, para que as futuras gerações não esqueçam os terríveis “anos de chumbo” a que o Brasil foi submetido, bem como não tenham que passar pelas agruras advindas de um novo regime de exceção. Levando tudo isso em consideração, esta Mesa-Redonda tem como objetivo discutir as relações envolvendo política e religião, no contexto do regime civil-militar brasileiro, com especial destaque para o desenvolvimento da teologia da libertação, de um lado, e para o fortalecimento do fundamentalismo religioso, de outro. Trajetórias de personagens fundamentais como Dom Paulo Evaristo Arns, dos dominicanos Frei Betto e Frei Tito de Alencar Lima, além dos Reverendos Jaime Wright e Rubem Alves, merecerão destaque nesta Mesa-Redonda, sem esquecer, contudo, de outros tantos religiosos/as menos conhecidos do grande público, mas que foram vitimados pela violência da época, tornando-se testemunhas de resistência ao violento regime em vigor.
1) A Resistência dos Evangélicos no enfrentamento da Ditadura
Profª. Drª. Magali do Nascimento Cunha (ISER)
A “história oficial” silenciou por muito tempo sobre o papel das igrejas evangélicas tanto no apoio quanto na oposição à ditadura militar, deixando em evidência apenas a Igreja Católica, quando, na verdade, se tratava da memória dos cristãos no período. Pesquisas acadêmicas e, mais recentemente, o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV, volume II, texto 4), trouxeram à tona episódios e nomes de perpetradores e cúmplices das atrocidades cometidas pelo regime militar naqueles “anos de chumbo”. Além disso, também vieram à superfície memórias de lideranças clérigas e leigas das igrejas evangélicas comprometidos com a fé cristã aplicada à defesa da justiça e da democracia. Esta apresentação oferecerá um perfil e as bases que motivaram homens e mulheres evangélicos na resistência e no enfrentamento da ditadura militar no Brasil. Entre estes cristãos e cristãs serão destacados os presos, torturados, mortos e desaparecidos, entre estudantes professores, metalúrgicos, seminarista, pastor missionário estrangeiro, deputado estadual, sociólogo e trabalhador rural, além da rede de oposição à ditadura formada dentro e fora do País.
2) 1964-2024: paralelos e contrastes
Prof. Dr. Eliezer Rizzo de Oliveira (UNICAMP)
O regime militar (1964-1985) e algumas igrejas protestantes mantiveram conexões no tocante aos mecanismos de exercício do poder. De um lado, os sucessivos atos institucionais expressaram a ocupação do Estado pelos aparelhos militares, que passaram a fundar o exercício do poder político. De outro lado, direções eclesiásticas reestruturaram métodos de administração e intervieram em seminários teológicos, com o concurso da repressão e exclusão. Sessenta anos após o golpe militar de 1964, quais são os contrapontos possíveis de serem feitos a respeito da participação evangélica nas estruturas de poder da democracia brasileira? O perdão terá lugar nas identidades protestantes?
3) Ecumenismo e preservação da memória no regime militar brasileiro
Prof. Dr. Gerson Leite de Moraes (UPM/UNICAMP)
O objetivo desta apresentação é salientar a prática ecumênica entre protestantes e católicos durante o regime militar brasileiro. Pode-se afirmar que ocorreu, no Brasil, um ecumenismo de socorro às vítimas da ditadura militar, bem como um ecumenismo de preservação da memória das atrocidades da ditadura militar, para que as futuras gerações não se esqueçam dos terríveis “anos de chumbo” a que o Brasil foi submetido e não tenham que passar novamente pelas agruras de um regime de exceção. Vale ressaltar que esse ecumenismo, no Brasil, foi mais um ato de pessoas isoladas, que representavam suas respectivas instituições, às vezes à revelia destas, do que propriamente atos das próprias instituições religiosas. Dentre várias pessoas corajosas que atuaram neste campo, nosso recorte recai sobre duas figuras de singular importância para a memória deste período trágico: Jaime Wrigth, pastor presbiteriano, e o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de São Paulo.
Dia 11/11/2024 – 19:30 h
MESA-REDONDA 9
EROTISMO, SEXUALIDADE E LINGUAGENS EM TEMPOS DE AUTORITARISMO
Palestrantes:
Prof. Dr. Robson Pereira da Silva (UFSCar/DCSo)
Prof. Dr. Miguel Rodrigues de Sousa Neto (UFMS/CPAQ/PPGCult)
Prof. Dr. Marcos Antônio de Menezes (UFJ/UFG)
Mediação:
Profª. Drª. Lays da Cruz Capelozi (RIPHCC)
As experiências autoritárias se espalham pela história, algumas delas durando anos ou décadas ininterruptas, inclusive como governo estabelecido. É possível também considerar as práticas autoritárias que emergem no cotidiano, mesmo durante governos que possam ser considerados como democráticos, uma vez que a sanha autoritária, o desejo de exclusão e a eliminação do outro está presente também nessas sociedades. Em meio a contextos de práticas políticas autoritárias. “Eros resiste a todo exorcismo a que foi submetido e manifesta-se como pode, aguardando a moldura de tempos mais favoráveis para o seu culto”, como bem afirmou Vilma Figueiredo. De acordo com Bataille, “o erotismo é a aprovação da vida até a morte”. Por conseguinte, isso ganha uma força especial onde a interdição e o arbítrio dão as ordens. Assim sendo, mesmo na exceção, o erotismo soa como um murmúrio cultural e uma luta corporal que anseia por liberdade de forma potencial, em contextos onde não é desejado. Nesse sentido, os participantes desta Mesa-Redonda buscam refletir sobre as experiências autoritárias e as formas de resistência a elas, seja no Brasil, a partir da intervenções de Robson Pereira da Silva [“Balett Stagium em ‘Quebradas do Mundaréu’ (1976): erotismo e resistência”], de Miguel Rodrigues de Sousa Neto [“Erotismo, afetos e subversão em ‘Vagas notícias de Melinha Marchiotti’, de João Silvério Trevisan”], ou fora daqui, como o espaço francês abordado por Marcos Antonio de Menezes [“A despersonalização de Eros no palco da grande cidade moderna: uma análise a partir da poesia de Baudelaire e da sociologia de Simmel e Benjamin”]. Portanto, o principal “objeto” do diálogo proposto nesta Mesa-Redonda é tanto a elaboração estético-política, que coloca em conflito as tensões sociais, quanto a possibilidade de transformação.
1) Ballet Stagium em “Das Quebradas do Mundaréu” (1975): erotismo e resistência
Prof. Dr. Róbson Pereira da Silva (UFSCar/DCSo)
Na década de 1970, durante o período do arbítrio ditatorial militar, o erotismo emergiu como uma poderosa ferramenta para desafiar as marcas das interdições na vida política e social brasileira. Nesse contexto de restrição ao exercício da liberdade, Eros se manifestava nas brechas, lutando no espaço “sem-lugar” da livre expressão. Essa manifestação erótica serviu para constranger e provocar o autoritarismo por meio de uma corporeidade transgressora, frente a um regime político opressor. O lema próximo dessa ideia seria: “Eros vence a repressão”. Assim, o erotismo se tornou um instrumento de resistência e uma forma de afirmar a diferença, em contraste com a homogeneização autoritária, quase militarizada. Foi nesse cenário que a companhia de dança brasileira Ballet Stagium, sob a direção de Décio Otero e Marika Gidali, produziu suas incursões artísticas, dando corpo aos anseios de liberdade entrelaçados com expressões do desejo nos palcos brasileiros. Com suas “andanças” por todo o país, o Ballet Stagium tornou-se um símbolo de resistência. Sob a direção de Ademar Guerra, o texto dramatúrgico censurado de Plínio Marcos, Navalha na Carne, foi transformado no espetáculo de dança Das Quebradas do Mundaréu, em 1975. Neste espetáculo, Décio Otero e Marika Gidali ressignificaram a experiência dilaceradora dos personagens Vado e Neusa Sueli, respectivamente. A dimensão erótica desse espetáculo, que será o foco desta análise, reside na capacidade do Ballet Stagium de corporificar uma resistência por meio de uma realização artística com valor pulsante, capaz de criar beleza e engajamento político e social, em um “jardim das não-delícias” (OTERO, 1999, p. 68) como o Brasil, marcado por violências e desigualdades históricas. Essa realização, gestada durante a ditadura militar, constitui uma das balizas que orientam as narrativas e a construção da memória sobre a atuação do Stagium na História Artística e Cultural do Brasil contemporâneo.
2) A despersonalização de Eros do palco da grande cidade moderna: uma análise a partir da poesia de Baudelaire e da sociologia de Simmel e Benjamin
Prof. Dr. Marcos Antonio de Menezes (UFJ/UFG)
Esta apresentação tem como objetivo explorar a despersonalização de Eros na cidade moderna, analisando como a metrópole industrial e técnica fragmentou o indivíduo, dificultando a associação entre passado, presente e futuro, comprometendo, assim, as possibilidades de amor genuíno. Para demonstrar essa assertiva, a análise tomará como ponto de partida a poesia “À Uma Passante”, de Baudelaire, para, em seguida, dialogar diversas obras teóricas que iluminam, de diferentes maneiras, essa discussão.
3) Erotismo, afetos e subversão em ‘Vagas notícias de Melinha Marchiotti’, de João Silvério Trevisan
Prof. Dr. Miguel Rodrigues de Sousa Neto (UFMS/CPAQ/PPGCult)
João Silvério Trevisan é um ficcionista e ensaísta, jornalista, roteirista, diretor cinematográfico, coordenador de oficinas literárias e um expoente do movimento de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, intersexos, assexuais e demais pessoas com variabilidade de gênero ou de orientação sexual (lgbti+). Após uma década de formação religiosa em um seminário católico, Trevisan se volta para a produção cinematográfica e, posteriormente, literária. Sua primeira obra publicada no Brasil foi “Testamento de Jônatas deixado a David”, em 1976, logo após o retorno do autor de uma viagem de três anos pela América Latina e Estados Unidos. A segunda obra escrita por João foi o romance “Vagas notícias de Melinha Marchiotti”. Trata-se de uma obra composta por diversas camadas narrativas, desde “o autor”, que busca os elementos para a história de Melinha, “o escritor”, que explicita seus dilemas e problemas na escrita do texto, Melinha e Tia Helena, que se mesclam na narrativa. Dilemas, enfrentamentos, sexualidade, erotismo, loucura, abandono, memória são elementos acionados por Trevisan e destacados nesta análise, que busca situar a obra em sua conjuntura história de produção e de recepção contemporânea.
Dia 18/11/2024 – 19:30 h
MESA-REDONDA 10
MODA, DANÇA E ARQUITETURA: EXPRESSÕES ARTÍSTICAS E SEUS SIGNIFICADOS PARA A DEMOCRACIA
Palestrantes:
Profª. Drª. Mônica Abed Zaher (UPM)
Profª. Drª. Gilsamara Moura (UFBA)
Profª. Drª. Heloisa Dallari (FAAP)
Mediação:
Profª. Drª. Mônica Abed Zaher (UPM)
Esta mesa propõe uma discussão entre moda, dança, arquitetura e outras expressões artísticas e culturais como dinâmicas para denunciar as imposições do regime militar.
1) Quando a moda faz história: a denúncia imagética de Zuzu Angel
Profª. Drª Mônica Abed Zaher (UPM)
Zuleika Angel Jones (1921-1976), nascida em Juiz de Fora, Minas Gerais, foi vítima e delatora, ao mesmo tempo, das atrocidades da ditadura militar. A censura dos anos 1960 calou a voz de seu filho, Stuart Edgard Angel Jones [1945 – 1971 (?)], e a sua própria. Profissional reconhecida internacionalmente por suas criações, Zuzu fez de sua vida uma luta pela democracia e para recuperar o corpo de seu filho, torturado, morto e jamais encontrado. A moda criada por Zuzu Angel relatou de forma explícita, por meio de modelos, cores e estampas tanto o seu sofrimento de mãe quanto seus apelos dentro e fora do Brasil, a fim de que se recuperasse a dignidade de um povo oprimido por um regime autoritário.
2) “Eu não sou Pinar Selek, mas poderia ser. Qualquer uma de nós poderia ser”
Profª. Drª. Gilsamara Moura (UFBA)
Refletir sobre as insolências, as insurgências e as insurreições que exigem uma visão em paralaxe, um olhar que espreita perspectivas múltiplas. Como criar relações de colaboração nas diferenças? Como compartilhar a expansão das existências, apagar fronteiras e coreografar políticas da amizade? O nosso compromisso é deixar vestígios, disseminar marcas residuais poderosas, pautar outras formas de políticas, corazonar territórios, evocar ritos e encantados, fazer acordar em nós a insolência e transformar corpos em atos de políticas solares de afeto.
3) Lina Bo Bardi e Zuzu Angel: expressões de brasilidade
Profª. Drª. Heloisa Dallari (FAAP)
Lina Bo Bardi se encantou pela simplicidade artesanal e gráfica diante da arte popular nordestina, com a qual travou íntimo contato durante sua permanência em Salvador, entre 1959 e 1964. Esta foi, sem dúvida, uma experiência cultural que fugia ao convencional. Em Salvador, Lina teve como missão fundar o Museu de Arte Moderna da Bahia e o Museu de Arte Popular. Fascinada pelas criações populares, Lina valorizava o artesanato, no qual vislumbrou as raízes para a formação de um design genuinamente brasileiro. Essa iniciativa incomodou extremamente a elite dominante de então, de modo que os referidos museus fossem fechados pelos canhões Ditadura Militar.
Dia 25/11/2024 – 19:30 h
MESA-REDONDA 11
DITADURA, MEMÓRIA E USOS DO PASSADO
Palestrantes:
Profª. Drª. Lidiane Friderichs (UAB/UFPel)
Profª. Drª. Priscila Lima Alonso (RIPHCC)
Prof. Dr. Eduardo Roberto Jordão Knack (UFCG)
Mediação:
Prof. Dr. Eduardo Roberto Jordão Knack (UFCG)
O passado referente ao período da Ditadura Civil-Militar brasileira, iniciada com o golpe de 1964, tem sido intensamente usado e instrumentalizado nas duas últimas décadas, especialmente por grupos políticos vinculados à extrema direita e pelo bolsonarismo, fazendo eco entre eleitores, simpatizantes e defensores dessas concepções entre militares da reserva e na sociedade civil. Sem dúvida, estamos diante de uma reação retrógrada e conservadora, que tem estimulado o revisionismo ideológico e o negacionismo de aspectos desse passado, como a repressão, perseguições arbitrárias, tortura e assassinatos, visando construir uma memória enviesada desse período para finalidades políticas e, ao mesmo tempo, para combater avanços progressistas, como os trabalhos das Comissões Nacionais da Verdade (CNV). Dessa forma, a mesa “Ditadura, Memória e Usos do Passado” busca promover um debate amplo sobre os trabalhos e mobilizações da memória da ditadura, a partir de diversificados grupos políticos e da apropriação por diferentes mídias e suportes que têm circulado na sociedade nos últimos anos.
1) Usos do passado sobre a Ditadura Civil-Militar
Profª. Drª. Lidiane Friderichs (UAB/UFPel)
Esta apresentação buscará refletir sobre os discursos construídos pelas direitas brasileiras em torno da ditadura civil-militar, identificando as narrativas que pretendem ou negar o caráter autoritário do governo, bem como a tortura e as violações dos direitos humanos, ou justificar seu uso. Nesse sentido, produções audiovisuais, livros, relatos autobiográficos, entre outros, procuram “revelar” o que chamam de “verdade sufocada” e manipulada pelas esquerdas e pelas vítimas do autoritarismo, numa luta pelos sentidos da história e da memória da ditadura. Os grupos negacionistas e revisionistas pretendem construir uma imagem do passado ditatorial como um período exemplar, de harmonia social e política, apenas rompido/contestado por indivíduos vinculados a ideologias exógenas. Assim, esta apresentação vai refletir sobre esses usos do passado, nos últimos anos no Brasil, e como eles são mobilizados para, de um lado, negar os aspectos negativos da ditadura e exaltá-la e, de outro, justificar a necessidade de se utilizar, no presente, recursos autoritários para aprovar determinados projetos políticos e vencer/calar a oposição.
2) “Que bom te ver viva”: testemunhos femininos e o direito ao ressentimento
Profª. Drª. Priscila de Lima Alonso (RIPHCC)
Em 1964, o golpe militar brasileiro implementava a Doutrina da Segurança que suspendeu direitos civis e políticos, e que implementou a prática da perseguição política, da prisão, da tortura, do assassinato, do sequestro e do exílio aos críticos e oponentes de tal regime. Após 21 anos, o processo de abertura democrática foi marcado por um discurso que reforçava a necessidade da transição conciliatória. Vozes contrárias a tal discurso, testemunhos díspares oriundos dos familiares dos desaparecidos ou dos variados movimentos sociais e de instituições eram tidos como “ruídos” inconvenientes. Entretanto, o debate em torno da pluralidade da memória da ditadura militar brasileira ganhou novo fôlego com a criação da Comissão Nacional da Verdade, incumbida de averiguar os casos graves de violação dos direitos humanos entre 1946 e 1988. Com a abertura de arquivos e instauração de investigação, cerca de 350 pessoas foram ouvidas, com destaque para o testemunho de mulheres que detalharam sua luta de resistência e os diversos tipos de tortura as quais foram submetidas. Nesse contexto e em diálogo com o filme “Que bom te ver viva (1989)”, de Lúcia Murat, este ensaio objetiva lançar luzes sobre as narrativas das mulheres e o seu processo de rememorar experiências silenciadas e, assim, oferecer um testemunho plural sobre o período ditatorial e de abertura política, no qual o direito ao ressentimento, advindo de situações de extrema violência, surge não como um distúrbio patológico, mas como uma virtude moral capaz de comunicar um protesto contra o esquecimento e uma resistência contra os testemunhos silenciados.
3) Cultura histórica e memória da Ditadura Civil-Militar: o livro-jogo O Porão e a história em quadrinhos Chumbo
Prof. Dr. Eduardo Roberto Jordão Knack (UFCG)
Esta apresentação procura refletir sobre a emergência de uma memória da ditadura em espaços públicos, especificamente em dois meios/suportes – o livro-jogo de Role-Playing Game “O Porão”, de Vitor Soares e Giovanni Arceno, e a história em quadrinho “Chumbo”, de Matthias Lehmann, ambos publicados em 2024, no contexto dos 60 anos do golpe civil-militar de 1964. Pensando apenas nas últimas décadas, desde 2013, foi possível perceber manifestações solicitando intervenção militar e fazendo referência à ditadura com saudosismo. A eleição de Jair Bolsonaro, político que defendeu ao longo de sua trajetória a ditadura, fazendo elogios e apologia a torturadores, demonstra que os problemas sobre a memória desse período estão longe de serem resolvidos e que os usos públicos e políticos desse passado precisam ser observados criticamente por historiadores e professores. Tais menções também demonstram a presença desse tema na cultura histórica brasileira, com manifestações em diferentes suportes, contextos e orientações políticas diversas. Além da história enquanto disciplina escolar e área do conhecimento, outros meios procuram se apropriar desse passado de forma crítica, como no caso do livro-jogo “O Porão”, em que os leitores/jogadores guiam os passos de uma militante da resistência em uma invasão ao prédio do DOPS para resgatar uma amiga detida. A história em quadrinho “Chumbo” foi inspirada nas memórias e na vida da família do autor, tendo como personagens principais dois irmãos que vêm de uma família do interior de Minas Gerais. Durante a ditadura, um dos irmãos passou a defender os militares, ao passo que o outro dedicou-se à literatura, tornando-se jornalista e sofrendo com os “anos de chumbo”. Cabe mencionar que, nesses 60 anos do golpe, não podemos deixar de lado os debates em torno de uma “comemoração” dessa data – comemorar não em um sentido laudatório, mas para “rememorar” esse trágico período da história brasileira. As obras mencionadas se inserem nesse contexto de rememoração de uma memória traumática assinalada pela data, mas se distanciam de manifestações acríticas e/ou saudosistas dos militares.
Considerações finais da Comissão Organizadora.
Os membros da Rede Internacional de Pesquisa em História e Culturas no Mundo Contemporâneo reafirmam a urgência e a necessidade das reflexões acima apresentadas e distribuídas ao longo de onze (11) Mesas-Redondas. Acreditamos que elas são suficientemente amplas para atender diferentes pontos de vista e visões de mundo, mas reafirmando, sempre, a necessidade de oferecer uma efetiva contribuição para o aperfeiçoamento e fortalecimento da vida democrática no Brasil.
Junte-se a nós!